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Os donos do português
Thread poster: Maria Teresa Borges de Almeida
Maria Teresa Borges de Almeida
Maria Teresa Borges de Almeida  Identity Verified
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Jul 29, 2011

Gostaria de chamar a atenção dos colegas para um artigo publicado no Brasil em Junho na revista "Época" e agora reproduzido em Portugal no "Courrier Internacional" de Agosto de 2011. Boa leitura!

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI242480-15220,00.html


 
oxygen4u
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Muito interessante Jul 29, 2011

Muito interessante. Obrigada por partilhar!

 
Carla Guerreiro
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Sabe bem ler artigos elogiosos do outro lado do Oceano Atlântico... Jul 31, 2011

... mas não haverá uma certa ponta de auto-flagelação neste artigo? Gostava de saber o que pensam os nossos colegas brasileiros sobre a actual literatura brasileira. Por acaso, conheço muito pouco, mas tive a oportunidade de ler Milton Hatoum (mencionado no artigo) e gostei.

 
Maria Amorim (X)
Maria Amorim (X)  Identity Verified
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Algumas reflexões Aug 5, 2011

Não se poderia minimamente comentar esta matéria sem lançar-lhe um olhar sociológico, sem lembrar a história recente do Brasil, desde 1964, ano que inaugura o regime de ditadura militar no Brasil, que se estenderá por penosos quinze anos, até os dias atuais, as nefastas consequências desse período, os valores dominantes que viriam a modelar a sociedade, as prioridades sociais, as imensas desigualdades sociais que viriam a surgir, etc..
Sem a pretensão de ir tão longe, até por n
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Não se poderia minimamente comentar esta matéria sem lançar-lhe um olhar sociológico, sem lembrar a história recente do Brasil, desde 1964, ano que inaugura o regime de ditadura militar no Brasil, que se estenderá por penosos quinze anos, até os dias atuais, as nefastas consequências desse período, os valores dominantes que viriam a modelar a sociedade, as prioridades sociais, as imensas desigualdades sociais que viriam a surgir, etc..
Sem a pretensão de ir tão longe, até por não ser socióloga, seguem-se algumas reflexões baseadas no meu duplo olhar: uma portuguesa criada no Brasil.
Aqueles que tiveram a graça de nascer bem antes desse período certamente conhecem dois Brasis bem diferentes. Na década de 50, qualquer criança nas metrópoles brasileiras tinha acesso à educação de qualidade nas escolas públicas de ensino primário, e se seguisse para o ensino secundário poderia, igualmente, sem nenhum custo, aprender, grego, latim, francês e filosofia como parte das disciplinas obrigatórias do curso “clássico”, que encaminhava os alunos para as faculdades de Áreas Humanas. Já, no entanto, na década de 80, existiam poucas escolas públicas de qualidade; as escolas privadas ocuparam esse espaço, o ensino elitizou-se e muitas crianças brasileiras jamais chegariam à porta de uma escola. Esse é um dado lamentável, mas felizmente não é irreversível. Pode ser mudado e, com certeza, será mudado para, ou pelas, as gerações vindouras.
No entanto, não se pode deixar de salientar alguns aspectos no andamento da história: o empobrecimento da erudição, da língua portuguesa no Brasil; a superficialidade da estrutura do pensamento, das ideias; o excessivo vazio experimentalismo, e a ausência de um público crítico para leitura. Não é, portanto, surpreendente que boa parte da literatura publicada no Brasil, pela nova geração de escritores, esteja a milhas de distância de um Machado de Assis, de um Graciliano Ramos, de um Carlos Drummond de Andrade, de um Mário de Andrade, de um Guimarães Rosa, de uma Clarice Lispector, para apenas citar alguns grandes nomes.
Mas salvam-se alguns novos nomes. E há muitos escritores bons só conhecidos em círculos restritos e alguns que estão editar seus livros em edições do autor. Esses autores, no entanto, não chegam, e muitos não querem mesmo chegar, às prateleiras das grandes livrarias brasileiras.
Os concursos literários que deveriam estimular o surgimento de novos valores estão, muitos, incumbidos de perpetuar a trivialidade.
Em 1964, Portugal gestava, sem ainda o saber, uma revolução que aconteceria dez anos depois, e que fecharia os portões de uma autocrata governança política. A Revolução dos Cravos aliviaria, entre outros aspectos, as futuras gerações do peso dos erros do passado. E estas - graças a Deus! -poderiam debruçar-se livres sobre espaços mais amplos ou até voltar ao passado, mas com outro olhar.
No Brasil houve uma contração; em Portugal, uma expansão. Falo de momentos na história de cada país.
Mas, atenção! o fado lusitano é escrever — prosa e poesia —, e isto só um português sabe na alma o porquê.
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Paula Borges
Paula Borges  Identity Verified
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Sobre a atual literatura brasileira Aug 24, 2011

Creio que há uma certa depreciação da literatura brasileira no artigo sim... Mas acredito ser mais um reflexo do mercado editorial do que dos próprios autores...

Existe uma literatura interessante contemporânea brasileira, mas infelizmente é pouco explorada devido à uma série de preconceitos do mercado editorial em geral. Esta literatura faz uso de "dialetos" urbanos que são pouco respeitados, e é mais comum encontrá-la em blogs, apesar de termos algumas editoras de vang
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Creio que há uma certa depreciação da literatura brasileira no artigo sim... Mas acredito ser mais um reflexo do mercado editorial do que dos próprios autores...

Existe uma literatura interessante contemporânea brasileira, mas infelizmente é pouco explorada devido à uma série de preconceitos do mercado editorial em geral. Esta literatura faz uso de "dialetos" urbanos que são pouco respeitados, e é mais comum encontrá-la em blogs, apesar de termos algumas editoras de vanguarda lançando livros interessantes.

Vale lembrar que a própria Clarice Lispector sofreu acusações de que seu português não era suficientemente "erudito"...

As grandes livrarias brasileiras, no entanto, estão repletas de apelos comerciais que visam apenas o lucro. Uma infinidade de livros estrangeiros com traduções duvidosas, autoajuda, e livros para adolescentes são a fonte primária de lucro da indústria.

Não há como negar que a literatura brasileira tenha uma certa queda regional e social, mas não teria como ser de outra forma: as várias regiões do país possuem diferentes culturas, economias, realidades, climas e até dialetos... Estas variações são muito significativas... E, em segundo lugar, o aspecto social e econômico é uma realidade ainda clara e relevante demais para deixar de influenciar a criação dos autores.

Os argumentos usados no artigo são um pouco supérfluos... Sem dúvida alguma, o verdadeiro amante da boa literatura encontrará ótimos autores tanto em Portugal quanto no Brasil e qualquer outro país de língua portuguesa.

[Edited at 2011-08-24 04:01 GMT]

[Edited at 2011-08-24 04:02 GMT]
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Maria Teresa Borges de Almeida
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Paula Aug 24, 2011

Em Portugal e na Bélgica (os mercados que eu conheço melhor) passa-se exactamente a mesma coisa: as livrarias têm mais livros que repetem pela enésima vez a receita para ser mais feliz (mais saudável, mais magro, mais inteligente, é à escolha!) em apenas dez passos simples do que verdadeira literatura... Mas o amante de literatura, seja em que língua for, encontra sempre "alimento" e a escassez leva-nos por vezes a verdadeiras descobertas! Boa leitura...

 
Paula Borges
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Teresa Aug 27, 2011

Creio que uma questão de tradicão. Talvez o Brasil ainda não tenha desenvolvido uma cultura da procura dos bons autores novos, e só procura autores de temas mais populares ou consagrados. Muito se fala sobre uma excelente nova geração de autores portugueses, mas acredito que seja simplesmente porque escritores brasileiros tenham muito mais dificuldade em obter interesse das editoras maiores.

Os bons autores são obrigados a publicar de maneira independente, e a divulgação ac
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Creio que uma questão de tradicão. Talvez o Brasil ainda não tenha desenvolvido uma cultura da procura dos bons autores novos, e só procura autores de temas mais populares ou consagrados. Muito se fala sobre uma excelente nova geração de autores portugueses, mas acredito que seja simplesmente porque escritores brasileiros tenham muito mais dificuldade em obter interesse das editoras maiores.

Os bons autores são obrigados a publicar de maneira independente, e a divulgação acaba sendo muito mais limitada.
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Maria Teresa Borges de Almeida
Maria Teresa Borges de Almeida  Identity Verified
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Visão Aug 28, 2011

Ligado com este assunto, saiu esta semana, numa revista semanal portuguesa, na secção "Cultura", um artigo interessante intitulado "Editores numa encruzilhada" que a dado passo diz: "Hoje chamamos autor a um senhor da televisão que escreve um livro, a uma senhora que tem um programa de culinária..." e, mais adiante, "(...) não se edita hoje um livro que não se venda, ao contrário do que acontecia no passado, em que as obras eram editadas devido à sua qualidade, mesmo que se soubesse que ... See more
Ligado com este assunto, saiu esta semana, numa revista semanal portuguesa, na secção "Cultura", um artigo interessante intitulado "Editores numa encruzilhada" que a dado passo diz: "Hoje chamamos autor a um senhor da televisão que escreve um livro, a uma senhora que tem um programa de culinária..." e, mais adiante, "(...) não se edita hoje um livro que não se venda, ao contrário do que acontecia no passado, em que as obras eram editadas devido à sua qualidade, mesmo que se soubesse que não seriam um sucesso comercial. Este é aliás o pilar principal do novo paradigma do mundo dos livros: o centro da edição já não é o editor, a pessoa que decidia o que o público iria ler, mas o... leitor.". Matéria para reflexão!Collapse


 
Paula Borges
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Passeios pelas livrarias de São Paulo... Aug 29, 2011

Há sempre uma banca com os livros "mais vendidos".

Estes livros geralmente são de autoajuda ("como virar milionário"), sobre vampiros adolescentes ou em algumas ocasiões, biografias. A maioria escrita originalmente em inglês.

Basta ler uma página para perceber que a qualidade das traduções vem caindo muito. Expressões são traduzidas de forma literal, nada soa natural, nada é adaptado... O que será que vem acontencendo neste sentido? São os prazos, os orçam
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Há sempre uma banca com os livros "mais vendidos".

Estes livros geralmente são de autoajuda ("como virar milionário"), sobre vampiros adolescentes ou em algumas ocasiões, biografias. A maioria escrita originalmente em inglês.

Basta ler uma página para perceber que a qualidade das traduções vem caindo muito. Expressões são traduzidas de forma literal, nada soa natural, nada é adaptado... O que será que vem acontencendo neste sentido? São os prazos, os orçamentos?

Outro dia mesmo fiz uma comparação entre livros publicados há 5 anos atrás e os atuais, e as traduções estão cada dia mais confusas... Em alguns casos, com parágrafos inteiros que chegam a ser impossíveis de compreender. Será que o nível de exigência do leitor também vem caindo?
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Maria Teresa Borges de Almeida
Maria Teresa Borges de Almeida  Identity Verified
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Receio bem que sim... Aug 29, 2011

... que o nível de exigência do leitor decaiu muito, tanto no que se refere ao conteúdo como à sua tradução. Quanto à qualidade desta, digamos que não me surpreende, atendendo ao preço que as editoras pagam... Surpreende-me, isso sim, que ainda haja quem trabalhe (bem!) apenas por amor à literatura!

 
Ana Rita Simões
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uma questão de marketing Sep 1, 2011

Teresa Borges wrote:
Este é aliás o pilar principal do novo paradigma do mundo dos livros: o centro da edição já não é o editor, a pessoa que decidia o que o público iria ler, mas o... leitor."


Eu diria mesmo que é o departamento de marketing que decide o que o público vai ler. Tendo trabalhado/estudado nesta área, pude constatar que, infelizmente, a decisão sobre os livros a publicar nasce cada vez mais nas reuniões de marketing e não nas reuniões editoriais.

Por outro lado, quem lê livros de auto-ajuda ou livros escritos por personagens da televisão não será certamente o mesmo leitor dos clássicos da literatura. São públicos diferentes e, provavelmente, se só existissem os grandes clássicos nas livrarias, o número de leitores em geral seria muito mais baixo. A esta altura do campeonato, visto o nível de conhecimentos de português da maior parte da população, já fico contente se as pessoas lerem, o que quer que seja, basta que leiam.

O problema, na minha opinião, não é existirem demasiados livros "light": é a qualidade com que são produzidos TODOS os livros (incluindo a qualidade das traduções). Ultimamente, raro é o livro que leio onde não encontro gralhas. No último em que peguei já contei umas 10.

[Edited at 2011-09-01 17:01 GMT]


 
Maria Teresa Borges de Almeida
Maria Teresa Borges de Almeida  Identity Verified
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Ana Rita Sep 1, 2011

Totalmente de acordo consigo! Mais concretamente, no que diz respeito às gralhas, chamei há pouco tempo a atenção de um jornalista meu amigo que trabalha num importante semanário português para a quantidade crescente de gralhas inseridas nos jornais, ao que ele me respondeu que não era de surpreender na medida em que os revisores "tipográficos" eram coisa do passado (é o que faz a preocupação com a redução dos postos de trabalho por motivos económicos)...

 
Stefan Blommaert
Stefan Blommaert
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Uma questao de tradicao? Sep 15, 2011

Paula Borges wrote:

Creio que uma questão de tradicão. Talvez o Brasil ainda não tenha desenvolvido uma cultura da procura dos bons autores novos, e só procura autores de temas mais populares ou consagrados.


First of all: terribly sorry for writing in English; my written PT is absolutely horrible and I am completely and utterly ashamed of it!

Having lived for 6 years in Brazil (The North-East, I admit, but Brazil nevertheless), I think I am fairly close to target when I say that the FIRST tradition that should be done away with in Brazil is illiteracy: OFFICIAL (in 2010) statistics for the state of Ceara: between 48 and 52% of analphabets, mainly "no interior"...and one ISN'T analphabet when one can write ones name (!)....Now, I think we all know that being able to write and read your name is still a long way from reading a decent piece of literature.

That said: there has been produced absolutely marvelous literature in Brasil....so the material is definitely there!

Tenham um otimo dia!


 
Paula Borges
Paula Borges  Identity Verified
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Misunderstanding Sep 21, 2011

sblatlangtech wrote:

Paula Borges wrote:

Creio que uma questão de tradicão. Talvez o Brasil ainda não tenha desenvolvido uma cultura da procura dos bons autores novos, e só procura autores de temas mais populares ou consagrados.


First of all: terribly sorry for writing in English; my written PT is absolutely horrible and I am completely and utterly ashamed of it!

Having lived for 6 years in Brazil (The North-East, I admit, but Brazil nevertheless), I think I am fairly close to target when I say that the FIRST tradition that should be done away with in Brazil is illiteracy: OFFICIAL (in 2010) statistics for the state of Ceara: between 48 and 52% of analphabets, mainly "no interior"...and one ISN'T analphabet when one can write ones name (!)....Now, I think we all know that being able to write and read your name is still a long way from reading a decent piece of literature.

That said: there has been produced absolutely marvelous literature in Brasil....so the material is definitely there!

Tenham um otimo dia!


I'm afraid you misunderstood my point. I meant Portugal probably has a stronger tradition when it comes to reading and writing. It is a fact that people in Brazil are reading more and more, but we still have to face those problems you mentioned.

[Edited at 2011-09-21 17:49 GMT]


 
Vitor Machado
Vitor Machado
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Mercado Editorial Oct 14, 2011

Lendo a matéria só uma explicação me veio à mente:

Como eu li algures, o mercado editorial escolhe suas publicações baseadas no que vende. Apesar de ser uma afirmação simplista, brasileiro não gosta de ler escritor brasileiro.

Por quê?
Não sei, a impressão que tenho é que brasileiro sofre de uma "síndrome de vira-latas". Falta identidade nacional, e tudo que vem de fora é melhor.


 
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