O que está envolvido em ser tradutor jurídico
Podemos adotar, aos fins deste breve artigo, a definição utilizada pela UE, ou seja, “o tradutor produz documentos escritos mediante a tradução de um texto de uma língua para outra. O tradutor jurídico deve dominar os conceitos básicos e a terminologia, não apenas do direito como também do domínio em causa”. Assim, entende-se que o tradutor precisa necessariamente possuir conhecimento do direito que abarque também o setor em questão, como, por exemplo, o direito comercial e, se for o caso, mais especificamente o conhecimento técnico abordado no documento.
Como se tornar tradutor jurídico
Posto o critério de definição de um profissional dessa área, espontaneamente a pergunta sucessiva poderia ser qual percurso pode ser enveredado pelo tradutor que deseja atuar no universo jurídico. O tradutor, assim o chamaremos, pois antes de advogar especialização legal, já é um profissional linguista, dotado das ferramentas e competências encerradas em tal figura, necessitará de formação específica. Há cursos promovidos por universidades e escolas que conduzem o tradutor em tal percurso. Dentre eles, podemos citar alguns mestrados e pós-graduações de alta qualidade. Contudo, nem sempre essas formações preenchem plenamente as necessidades impostas pelo mercado de trabalho. Outro caminho é o da prática, por meio de estágios ou treinamentos efetuados em um escritório de advocacia ou em outra instituição. A vantagem deste último é o contato com a vida jurídica real, e o retorno recebido constantemente por parte de colegas e revisores.
Nesse respeito, o papel desempenhado pela revisão especializada é essencial. Muitas vezes figura odiada pelo tradutor, o revisor pode, entretanto, aportar uma contribuição preciosa ao profissional em formação. As suas observações e correções, fruto de longos anos de experiência e de um olhor sensível e crítico, podem, sem dúvida, constituir uma bagagem inestimável ao tradutor. Quando existe uma autêntica colaboração entre essas figuras, não antagonistas, porém, amigas, o primeiro profissional tem a oportunidade de crescer significativamente. Uma sugestão seria pedir ao cliente, caso se trate de uma agência, acesso ao documento revisado.
A própria pesquisa efetuada pelo tradutor também é um recurso valioso. Há pouquíssimos glossários jurídicos disponíveis, e, às vezes, são qualitativamente escassos. Assim, compilar dicionários pessoais se impõe ao profissional como algo imprescindível, além de constituir uma enorme economia de tempo em projetos futuros. O programa MultiTerm, instrumento de gestão terminológica aplicado ao Trados, é uma ótima ferramenta para a compilação de glossários. Recentemente, em apenas um projeto, acrescentei cerca de 300 termos e locuções ao meu glossário jurídico-econômico na combinação PT-IT. Deixo ao leitor imaginar o que isso representa em termos de horas de pesquisa e, afinal, o valor monetário de tal compêndio. Em poucas palavras, um investimento de ótimo rendimento para o tradutor.
Valor da tradução jurídica
Aparentemente, valor e preço são entendidos como conceitos intercambiáveis, quando, não o são. Não é possível, por óbvias razões de formação acadêmica, anos de experiência, investimento em ferramentas eletrônicas, etc., equiparar o valor cobrado por uma tradução especializada a uma mera transposição entre duas línguas. Contudo, uma vez que o cliente compreende que a tradução não representa um custo, mas sim, um investimento, com um olhar projetado para o futuro, será evidente a importância que assumirá tal serviço, nomeadamente no delicado campo da tradução jurídica.
Sendo que a tradução, em última análise, é um serviço, e não um produto, não é uma boa ideia insistir em obter descontos ou visar unicamente o preço e não o seu valor.
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